CORTAR
A RAIZ DO SOFRIMENTO
Muito obrigado por terem vindo sentar
junto conosco. Estou surpreso por ver tantas pessoas virem sentar em um sábado
à noite. Como vocês sabem, o caminho de Buda é para salvar a nós mesmos por nós
mesmos. Se vocês salvarem a si mesmos, poderão apreciar suas vidas.
Quando sentados em “shikantaza”, que é
a técnica do zazen, qualquer coisa que surja em suas mentes vocês devem
deixá-las ir da mesma forma que vieram, sem tocá-las, compará-las ou julgá-las
como boas ou ruins, certas ou erradas. Não toquem em nada. Com essa
técnica estamos criando em nossa mente a não dualidade.
Na vida diária temos 100% de dualismo,
bom ou ruim, eu e os outros, ganho ou perda, grande ou pequeno, vida ou morte e
iluminação e delusão. Em todo o tempo, nessa dualidade, estamos checando e
continuando com nossos pensamentos, mas a dualidade é um excelente instrumento
para resolver problemas e nos comunicarmos com outras pessoas, assim, nossa
mente cria a dualidade.
Toda a ciência e filosofia estão
baseadas no dualismo, por isso a dualidade é uma grande ferramenta, mas também
é capaz de criar grande sofrimento para a humanidade. Se vocês vão realmente
fundo dentro de vocês, conseguirão ver que nós mesmos e todo o mundo não somos
duais. Se vocês realmente virem esta verdade, poderão perceber que também a
verdade é não dual. A base do mundo é não dual. Vendo essa verdade vocês
poderão salvar a si mesmos e ir além de bem ou mal, poderão ir além de ganho ou
perda, poderão ir além de vida ou morte, poderão ir além de iluminação e delusão.
Temos a tendência de usar nossa mente
e dessa forma é muito difícil de entender um ser não dual. Na vida diária esse
som (bate no chão) é um objeto e eu sou sujeito. Mas esse som (bate no chão)
está além de sujeito e objeto. Na vida diária nós usamos eu, meu e minha ou seu
e sua, por exemplo, dizemos esse é meu corpo, minha pele, meu sangue, meu rim e
meus olhos, mas se vocês forem fundo dentro de vocês mesmos, verão que isso é
apenas uma expressão. Se eu dôo meu rim pra Genshô, ele passa a ser o rim de
Genshô. Se Genshô der esse rim para Tokushi, esse rim passará a ser de Tokushi,
então, na verdade, esse rim não é meu. Se for assim com todas as partes do meu
corpo, então esse “meu” não existe. Nós pensamos “minha mente”, “minha
opinião”, mas mesmo essa opinião veio dos outros e não desse corpo. Minha mente
e minha opinião também não existem. Tudo bem você dizer “meu sangue” na sua
vida diária, mas sob o ponto de vista absoluto, “meu sangue” não existe. Isso
que chamamos meu corpo e minha mente, é vazio.
Está escrito no Sutra do Coração que
por ver a vacuidade você salva a si mesmo, mas isso é apenas a metade. Para
usarmos uma metáfora, a vacuidade é como um espelho e um espelho está sempre
vazio, mas ao mesmo tempo, todo o mundo está dentro dele. Para o caminho
Budista ter nada é ter tudo, essa é a verdade sobre nós mesmos. Se vocês
realmente entenderem isso indo profundamente dentro de vocês mesmos, poderão ir
além, uma vez que ganho e perda, vida e morte não representarão nada, pois
vocês serão um com o universo. Não haverá divisão entre eu e os outros, entre
sujeito e objeto. Se vocês realmente virem isso, poderão apreciar suas vidas.
Digo até que poderão apreciar seus sofrimentos, pois a raiz do sofrimento pode
ser cortada e cortar a raiz é importante, pois só assim poderão aceitar todas
as coisas, inclusive a morte. Morte e vida, ganho e perda, eu e os outros são
apenas uma idéia dentro da mente e o verdadeiro “eu”, está além desses
conceitos em nossas mentes.
Muitas pessoas me perguntam se Budismo
é compaixão. Posso dizer que isso seja verdade, mas só se vocês virem que não
há divisão entre vocês e os outros, só assim poderão cuidar dos outros como
cuidariam de vocês mesmos. Sem essa verdadeira experiência, a compaixão será
apenas um entendimento intelectual, mas o Zen não é uma compreensão mental e
sim é ter uma verdadeira experiência. Para alcançar esse entendimento usamos o
zazen e através dele poderemos ter a verdadeira apreciação da vida. Quer vocês
entendam ou não, poderão sentir a base da unidade.
Obrigado.
Dosho Saikawa Roshi
Florianópolis (20.04.2013)
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